Bento XVI: “Desejo (…)que se valorize adequadamente o canto gregoriano, como canto próprio da liturgia romana” (Sacramentum Caritatis). Nesse artigo buscaremos demonstrar, de forma bastante resumida, o valor dado pela Igreja Católica ao Canto Gregoriano, hoje posto de lado na maioria das paróquias, substituído por músicas compostas em péssimos estilos, o que contraria não somente as regras de estética musical, mas também disposições legais da própria Igreja.
Muitos em nossos dias, mesmo considerando-se católicos, desprezam aquele que foi definido pelo Papa São Pio X como “o canto próprio da Igreja Romana.” (Motu Próprio Tra le Sollicitude, nº 3).
A música sacra é parte integrante da solene liturgia, visando a glória de Deus e santificação de todos os fiéis (Tra le Sollicitude, nº 1). Para atingir seus objetivos ela “deve possuir, em grau eminente, as qualidades próprias da liturgia, e nomeadamente a santidade e a delicadeza das formas, donde resulta espontaneamente outra característica, a universalidade. Deve ser santa, e por isso excluir todo o profano não só em si mesma, mas também no modo como é desempenhada pelos executantes. Deve ser arte verdadeira, não sendo possível que, doutra forma, exerça no ânimo dos ouvintes aquela eficácia que a Igreja se propõe obter ao admitir na sua liturgia a arte dos sons. Mas seja, ao mesmo tempo, universal no sentido de que, embora seja permitido a cada nação admitir nas composições religiosas aquelas formas particulares, que em certo modo constituem o caráter específico da sua música própria, estas devem ser de tal maneira subordinadas aos caracteres gerais da música sacra que ninguém doutra nação, ao ouvi-las, sinta uma impressão desagradável.” (Tra le Sollicitude, nº 2).
Nesse Motu Proprio, São Pio X afirma que o canto gregoriano possui tais qualidades em mais alto grau, do que resulta ser o canto próprio da Igreja Romana. Desse modo deve ser considerado como o modelo a ser seguido pela música sacra, o que é expresso na seguinte norma estabelecida pelo Pontífice: “uma composição religiosa será tanto mais sacra e litúrgica quanto mais se aproxima no andamento, inspiração e sabor da melodia gregoriana, e será tanto menos digna do templo quanto mais se afastar daquele modelo supremo.” (Tra le Sollicitude, nº 3).
Outro pontífice a tratar desse tema foi Pio XII na Encíclica Mediator Dei: “O canto gregoriano que a Igreja romana considera coisa sua, porque recebido da antiga tradição e guardado no correr dos séculos sob a sua cuidadosa tutela e que propõe aos fiéis como coisa também deles, prescrito como é de modo absoluto em algumas partes da liturgia, não só acrescenta decoro e solenidade à celebração dos divinos mistérios, antes contribui extremamente até para aumentar a fé e a piedade dos assistentes.” (Mediator Dei, nº 176).
Em outra encíclica, o Papa Pio XII relembra os ensinamentos de São Pio X sobre as qualidades que o canto gregoriano possui em mais alto grau e trata especificamente da santidade: “A essa santidade se presta sobretudo o canto gregoriano, que desde tantos séculos se usa na Igreja, a ponto de se poder dizê-lo patrimônio seu. Pela íntima aderência das melodias às palavras do texto sagrado, esse canto não só quadra a este plenamente, mas parece quase interpretar-lhe a força e a eficácia, instilando doçura na alma de quem o escuta; e isso por meios musicais simples e fáceis, mas permeados de tão sublime e santa arte, que em todos suscitam sentimentos de sincera admiração, e se tornam para os próprios entendedores e mestres de música sacra uma fonte inexaurível de novas melodias.” (Musicae Sacrae Disciplina, nº 20).
Dispensaremos aqui a redação de uma conclusão própria e finalizaremos esse breve artigo citando as palavras do papa emérito Bento XVI, na Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis:
“Verdadeiramente, em liturgia, não podemos dizer que tanto vale um cântico como outro; a propósito, é necessário evitar a improvisação genérica ou a introdução de géneros musicais que não respeitem o sentido da liturgia. Enquanto elemento litúrgico, o canto deve integrar-se na forma própria da celebração; consequentemente, tudo — no texto, na melodia, na execução — deve corresponder ao sentido do mistério celebrado, às várias partes do rito e aos diferentes tempos litúrgicos. Enfim (…), desejo — como foi pedido pelos padres sinodais — que se valorize adequadamente o canto gregoriano, como canto próprio da liturgia romana.” (Sacramentum Caritatis, nº 42).